IMPERIAL STOUT: do barco dos Czares aos barris de bourbon

Se a Imperial Stout fosse um personagem histórico, seria uma mistura de Marco Polo com um alquimista viking – aventureira, intensa e cheia de camadas. Vamos mergulhar na história desse estilo que é uma verdadeira lenda líquida.

No século XVIII, a czarina russa Catarina II (sim, aquela mesma) era fã de cervejas fortes e escuras vindas da Inglaterra. Mas havia um problema: a viagem entre Londres e São Petersburgo era longa, e as cervejas comuns estragavam no caminho.

A solução? Cervejeiros britânicos criaram uma Stout mais alcoólica (acima de 7% ABV), mais encorpada e com mais lúpulo (um conservante natural) para aguentar a travessia. O resultado foi uma cerveja tão poderosa que ganhou o título de "Imperial" – um tributo ao Império Russo.

POR QUE ELA É TÃO ESPECIAL?

  • Sabor: Chocolate escuro, café torrado, frutas secas e um final levemente amargo. Quase uma sobremesa alcoólica.

  • Corpo: Cremosa, densa e muitas vezes envelhecida em barris de bourbon ou uísque.

  • Versatilidade: Harmoniza com queijos azuis, carnes defumadas e... brownies de chocolate.

A VIAGEM QUE MUDOU A CERVEJA PARA SEMPRE

Em 1780, a cervejaria Thrale’s Anchor Brewery (Londres) assinou um contrato com a corte russa para enviar "Entire Porter" (ancestral da Stout) em tonéis reforçados. Mas o segredo não estava só no transporte:

  • Mais Malte = Mais Álcool (8-12% ABV): Para sobreviver à viagem de 6 meses pelo Báltico.

  • Lúpulo Extra: Agia como conservante natural (os russos adoravam o amargor balanceado).

  • Fermentação a Frio: As cervejas eram enviadas no inverno para evitar contaminação.

Resultado? Uma cerveja tão preciosa que só a nobreza russa tinha acesso. Diz a lenda que Catarina, a Grande bebia uma dose diária para "fortalecer o sangue".

A QUEDA E O RENASCIMENTO

No século XIX, com as guerras napoleônicas e a ascensão das Lagers, a Imperial Stout quase desapareceu. Sua reviravolta épica veio com:

  • O movimento craft beer (anos 1990): Cervejeiros americanos e belgas "redescobriram" a receita.

  • Barrel-Aging: A moda de envelhecer cerveja em barris de uísque (ex: Bourbon County Stout da Goose Island) elevou o estilo ao status de cult.

OS SEGREDOS DO SABOR: UMA ANÁLISE SENSORIAL

Característica Detalhes
Aparência Preta como óleo, com espuma cor de café com leite.
Aroma Chocolate 85%, café torrado, casca de laranja, rum e até molho de soja (umami)!
Boca Sedosa, com corpo de xarope balsâmico e final quente (álcool bem integrado).
Envelhecimento Melhora por 5+ anos – desenvolve notas de vinho do porto e nozes.

IMPERIAL STOUTS QUE VOCÊ PRECISA CONHECER

  1. "Parabola" da Fyne Ales (Escócia) – Envelhecida em barris de Scotch, tem notas de smoky e frutas negras.

  2. "Dark Lord" da 3 Floyds (EUA) – Lendária, com café, baunilha e 15% ABV (vendida só 1x/ano).

  3. "KBS" (Kentucky Breakfast Stout) – Founders Brewing (EUA) – Envelhecida por 1 ano em barris de bourbon da Heaven Hill, com café e chocolate.

CURIOSIDADES ABSURDAS

  • "The End of History" da BrewDog (55% ABV) foi vendida em animais empalhados (sim, você leu certo).

  • Em 1805, um navio carregado de Imperial Stout afundou no Báltico. Garrafas resgatadas em 2010 estavam perfeitamente bebíveis!

  • Existe uma White Imperial Stout (clara!) feita com malte não-torrado – um plot twist cervejeiro de estourar os miolos.

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